Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Ernesto Coelho: Ciclista com História na Memória Ciclista do FC Porto e do Ciclismo Português


Como o som do ar pode transportar história e memórias de quem conheceu o que tais efeitos podem lembrar, também o ciclismo é associado ao som das bicicletas a passar velozmente e os seus intervenientes valorosos são lembrados no sentido histórico, do impacto que provocaram durante a sua carreira.

Tudo isso, assim, na aragem que trespassa o íntimo da admiração perante ciclistas que povoaram tempos e espaços de afetos. Como foi o caso de Ernesto Coelho, um ciclista que muito trabalhou nas provas percorridas em parte dos anos sessentas, nessa década em que nas rádios tanto se ouvia a música dos Beatles, dos Sheiks e Cª , como os relatos das etapas da Volta a Portugal em bicicleta. Um ciclista que muito honrou a camisola do FC Porto, clube que representou e com o qual será sempre referenciado, como o Ernesto Coelho do Porto, ciclista que ajudou às vitórias do FC Porto em diversas provas ao longo de alguns anos e nas Voltas a Portugal ganhas pelos colegas de equipa Mário Silva, José Pacheco e Joaquim Leão, além de outras corridas, desde Clássicas até Grandes Prémios e Circuitos.


Ernesto Coelho tinha valor à medida do poderio que nesse tempo detinha o ciclismo do FC Porto, não sendo qualquer um que incluía um grupo forte como era a esquadra azul e branca, onde quase todos os ciclistas eram de idêntica valia e qualquer um podia vencer qualquer prova. Tal a força conjunta dos portistas nesse período áureo do ciclismo do FC Porto entre finais da década de cinquenta até meio dos anos sessentas. Tempo, aquando da chegada de Ernesto Coelho ao escalão sénior do ciclismo, em que no futebol, na era de Nascimento Cordeiro, primeiro, e depois duns Dr. Cesário Bonito, Sr. Pinto de Magalhães, Dr. Miguel Pereira e outros dirigentes que se dedicavam a gerir o grande baluarte nortenho, o clube não conseguia fazer valer sua qualidade perante o sistema BSB que dominava o panorama futebolístico nacional, emergindo então no valimento a demonstração de caracter portista através do ciclismo, onde não havia árbitros, por assim dizer. Modalidade que tinha em Franklim Cardoso um seccionista de raça (depois também diretor-treinador), de tal modo que os diretores federativos o afrontaram por ele defender os interesses do clube, algo que era sinal de marcação posicional que incomodava o regime desportivo do Estado Novo. Sendo então tempos em que o FC Porto era muito forte em ciclismo e tinha muitos bons ciclistas. Entre os quais a qualidade de Ernesto Coelho era evidente, no meio de tantos expoentes como Sousa Cardoso, Sousa Santos (pai), Artur Coelho, Mário Silva, Carlos Carvalho, Azevedo Maia, José Pacheco, Mário Sá, Joaquim Leão e mais, autênticos gigantes sagrados das corridas, tanto que mesmo como ciclista de trabalho de equipa, Ernesto Coelho era de valor reconhecido. A pontos de ter sido assediado de modo mais vincado pelo Benfica para se transferir para Lisboa, em altura de assentar praça para o serviço militar, valendo então o homem forte do clube Afonso Pinto de Magalhães ter conseguido resolver a situação a bem dos interesses do clube das Antas e do próprio ciclista.


Vai assim a alongar-se já esta narrativa, como numa corrida de extenso grosso da coluna ciclista, sem menor volta a dar, também neste caso, para melhor se definir posições, diante do muito que há a referir. Numa ligação entre gerações, de recolagem e recuperação memorial, enquanto se entreabre o baú de recordações e se empreende viagem com lembranças na mala do pensamento. Dentro do passado em que o FC Porto andava pelas estradas através dos corredores com suas camisolas das duas listas azuis salientes, a chegar aos tempos de agora em que o azul e branco voltou a salientar-se no meio do mundo do ciclismo que enche os olhos desportivos nacionais e não só. Como que a reverter memórias, naqueles sentidos de outras eras que nos fazem parecer a pele mais rejuvenescida.


Assim, muita e apreciável história nos contempla.


O Futebol Clube do Porto, como o próprio nome de fundação indica, é um clube surgido do futebol e especialmente associado ao fenómeno entusiasta futebolístico. Mas sempre também foi um clube eclético, pois desde a fundação incluiu diversas modalidades, chegando a albergar mais de vinte em tempos propícios. Havendo sobressaído na sua importância atrativa ainda no destaque de mais alguns desportos, como durante os anos quarenta e cinquenta aconteceu com o Andebol, que na antiga variante de Onze teve os “Campeoníssimos” (tal foi a hegemonia do andebol portista), e nos anos cinquenta e sessenta, sobretudo, mas até mais além, no ciclismo em especial, cujos ases dos pedais eram ídolos de multidões, perante um mundo de adeptos e simpatizantes que foram engrossando a família portista.

Nesse alongado pelotão portista o ciclismo, com efeito, foi sendo modalidade de grande apreço e com rico historial, que cativava adeptos para o clube, ao passar diante das próprias pessoas e nomeadamente pela superioridade que o FC Porto detinha, nesse tempo, em corridas de bicicletas. Eram anos em que havia canções que faziam feliz muita gente, andando muitas pessoas a toque do que se ouvia nas rádios, em tais períodos de melodias de sempre – onde também se acompanhava a Volta a Portugal por relatos diretos, de acompanhamento – e então como gostávamos de ver ciclistas briosos a vestirem a camisola que nos encantava, todos pipis, como se dizia, a fazerem pose agarrados aos guiadores de corrida, bem equipados com aquelas lindas camisolas das duas listas azuis, que se distinguiam bem no meio da caravana ciclista… e víamos nos jornais, quando não nos vislumbres que passavam a correr na televisão. Épocas de grandes equipas e enormes corredores, que o F C Porto tinha muitos e bons. Havendo favoritos entre conhecidos e apreciados, quer dos ditos líderes ou chefes de fila, que mais provas venciam, como dos trabalhadores em prol da equipa, os que ajudavam os colegas mais velhos ou de maior fama, por assim dizer. Passados os tempos do famoso Fernando Moreira, cuja fama perdurou no tempo, até aos Onofre Tavares, Dias dos Santos, Moreiras de Sá, Amândio Cardoso, etc. E chegaram épocas de Sousa Cardoso, Sousa Santos, Emídio Pinto, Artur Coelho, Carlos Carvalho, Mário Silva, José Pacheco, Azevedo Maia, etc. e uns Mário Sá, José Pinto, Joaquim Freitas, Ernesto Coelho…


Pois, entre esses ases das bicicletas, lá estava mesmo Ernesto Coelho, figura que agora queremos recordar, como um dos nossos antigos ídolos, daqueles ciclistas que admiramos com a camisola do FC Porto. Sentimentos que, afinal, ficaram na alma e passados tantos anos se deixam fluir, neste caso em homenagem a um desses valores que ajudaram a fazer o FC Porto grande como é, permanecendo nas imagens que perdurarão sempre entre boas recordações humanas.


Ernesto Coelho, ciclista do F C Porto nos tempos em que a equipa portista durante anos teve ciclistas quase todos candidatos aos primeiros lugares, foi vencedor, entre outros casos, de três etapas em provas importantes de duração de dias, como foi com uma no I Grande Prémio do FC Porto e duas durante as quatro Voltas a Portugal em que participou, bem como foi vencedor final de alguns circuitos e inclusive de um Grande Prémio (da Feira), além de ter vencido algumas mais etapas de Grandes Prémios e inclusive ter chegado a ser camisola amarela no decurso do I Grande Prémio do FC Porto, tal como incluiu a seleção portuguesa que participou em 1962 na Volta à França do Futuro (Tour d’ Avenir). Sendo assim um nome que ficou na história do ciclismo português, cujo pelotão nacional o teve até inícios de 1965, havendo depois rumado a França, onde correu e entretanto se radicou. Regressando por vezes e sempre que possível ao país natal, como ainda recentemente em pleno tempo das férias de verão.


Aí, entre as suas episódicas deslocações até Portugal, tendo tido conhecimento do apreço do autor destas linhas através do blogue “Memória Portista”, Ernesto Coelho veio fazer uma visita aqui ao “je”… que com grande satisfação o pude conhecer pessoalmente e com ele conversar animadamente do que ele fez e eu pude acompanhar, ele como ciclista do FC Porto e eu como simples adepto bem interessado no ciclismo do FC Porto, o que nesse tempo mais engrandecia o clube de meus olhos e coração.


Desse dia, em que o meu amigo Ernesto Coelho esteve comigo no meu espaço (acompanhado do também comum amigo sr. Joaquim Luís Costa, conterrâneo felgueirense que correu pelo Académico no tempo em que Ernesto pedalava pelo FC Porto), além de fotos da praxe, para recordar à posteridade, ficou sobretudo o que se conviveu em conversa informal, falando-se quase só de ciclismo e da carreira do ciclista em apreço. De cuja conversação ficamos com algumas dicas para um artigo, este que logo ficou alinhavado de cabeça e agora se expande, em honra desse grande ciclista do passado, em altura e valor.


Ernesto Coelho, que começou por correr nos circuitos da região, lembra-se de ter corrido na Aparecida, quando Emídio Pinto, então treinador adjunto do FC Porto, o descobriu e falou com seu pai para o deixar ir para o Porto, tendo mais tarde ficado no Lar do Jogador do Porto, junto com futebolistas colegas de clube, ainda muito jovem, passando depois a viajar alguns dias de casa para o Porto. Enquanto com a camisola do clube azul e branco percorreu as estradas do país durante alguns anos.


De nome completo Ernesto Fernando Martins Coelho, natural de São Martinho do Campo, do concelho de Santo Tirso, onde nasceu a 26 de Maio de 1942, Ernesto Coelho começou por se embrenhar com o andamento das bicicletas em miúdo, desde seus primeiros anos. O pai tinha uma oficina de consertos e consequente venda de bicicletas, vulgo garagem, originando que ele cedo andasse nesse meio e se deslocasse de bicicleta sempre que podia ou necessitava. Derivado a isso e entusiasmado em correr depressa, começou a mostrar jeito, tendo então o pai acedido a que entrasse em corridas populares, disputadas em circuitos que nesses tempos se realizavam dentro dos programas de festas anuais pela região. Foi assim que muito jovem participou pela primeira vez numa corrida dessas, sendo um apaixonado pelo desporto das bicicletas e admirador dos ases dos pedais desses tempos, com especial predileção por Fernando Moreira, o nome mais aplaudido pelas estradas nessas eras. Tendo feito circuitos de festas anuais como o da Aparecida, o da festa do Senhor dos Aflitos em Lousada, alguns mesmo pela região de Felgueiras e sobretudo na área do Ave.


Recordou assim Ernesto Coelho esses tempos:
 « - Gostei sempre muito de ver o FC Porto em ciclismo, sobretudo, desde que vi o ciclista Fernando Moreira a correr e, naturalmente, sonhava um dia ser ciclista do Porto. Por volta dos meus 14 anos, vendo-me numa  das corridas de circuitos populares,  veio ter comigo o sr. Emídio Pinto, treinador dos ciclistas mais jovens do FC Porto e convidou-me a ir para o Porto. Que alegria, senti. Disse logo que sim, mesmo sem falar com o meu pai. O que levou o sr. Emídio depois a falar com ele. E o meu pai respondeu que eu estava em idade de trabalhar para ganhar algum para casa, dizendo que não podia ir para ciclista pois  que não se ganhava nada que se visse. Aí ficou o Sr. Emídio de falar com alguém responsável do FC Porto para ver se me podia pagar alguma coisa. Uns tempos depois veio com uma grande notícia: o FC Porto estava disposto a pagar-me 600 escudos (3 euros em dinheiro atual) por mês, mais alimentação no fim dos treinos. E assim assinei o meu primeiro contrato de ciclista... e logo com o FC Porto. Foi em 1956, precisamente há 60 anos. Comecei nos iniciados até chegar a sénior. »

= Foto do jornal O Porto, ao tempo da chegada  de Ernesto Coelho à equipa principal do FC Porto   »»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»

Nesse tempo, para se ter ideia, nos princípios da década de 1960 o salário médio dos assalariados agrícolas rondava os 25$00 a 30$00 para o homem e 13$00 a 17$00 para a mulher. O desemprego atormentava os trabalhadores longos meses sem ganharem um tostão para o seu sustento e das suas famílias. E nas fábricas o ordenado rondaria os 40$00, enquanto um encarregado de secção podia ir aos 50$00, mais coisa menos coisa, em linguagem popular. Dizia o povo que nem cá nem lá, antes pelo contrário…

Continuando a conversa em torno de evocações, Ernesto continuou: « -Estive no FC Porto até aos meus 23 anos. A partir dos 18 anos era ciclista profissional do FC Porto e ganhava 1.600 escudos (8 euros na moeda de hoje) por mês, mais os prémios das corridas. Para além disso eu podia trabalhar noutra profissão e ganhava nisso mais 200 escudos (1 euro) por mês. Era muito bom. Enquanto treinava normalmente em três dias por semana, indo de S. Martinho do Campo nessas três vezes para ao Porto, mais concretamente para o Estádio das Antas. Tendo por vezes viajado junto com alguns futebolistas desse tempo, como Virgílio, que morava na Póvoa. Depois saíamos às 9 horas em equipa para as ruas da cidade invicta que não tinha ainda o trânsito que hoje tem e almoçávamos no Lar do Jogador. Eram condições de antigamente, em que a bicicleta com que eu corria pesava 10 quilos. Hoje tenho uma que pesa menos três quilos, o que é muito importante numa competição. Agora as bicicletas são feitas de materiais muito diferentes. »


Tendo entretanto se ligado a Vizela, terra da namorada e mulher da sua vida, Ernesto Coelho na sua primeira Volta a Portugal ainda chegou a correr com o vizinho Artur Coelho, grande nome do ciclismo, natural de Felgueiras mas então já residente em Vizela, como o próprio companheiro refere: « -Corri ao lado dele na Volta a Portugal em 1961. Foi a última prova em Portugal desse grande amigo.»


Nessa Volta de 1961, a primeira de Ernesto Coelho, que havia completado 19 anos pouco antes, deu-se o célebre caso da intoxicação dos corredores do FC Porto, facto que na época deixou dúvidas se teria havido manobras de bastidores, através da confeção da refeição na véspera da ocorrência, para afastar os principais favoritos. Coisa que levou ao atraso da chegada da equipa pela manhã, ao início da etapa seguinte. E entretanto foi dada partida aos restantes concorrentes por ordem superior, apesar dos protestos do diretor do FC Porto. Ocorrência que levou que os portistas arrancassem com substancial atraso, a juntar às condições de mau estar gástrico e consequentemente originou a desistência de alguns dos ciclistas, entre os quais Ernesto Coelho, que por tal motivo não pôde concluir a sua primeira participação na Volta.  Havendo assim o Porto ficado desfalcado de Artur Coelho, Mário Sá, Júlio Abreu, José Pinto e Ernesto Coelho, obrigando os restantes a cerrarem os dentes na luta pela honra da equipa. Que apesar disso e tendo resistido cinco ciclistas (Mário Silva, Sousa Cardoso, Sousa Santos, José Pacheco e Carlos Carvalho), no final foi Mário Silva do Porto que acabou de amarelo coberto pela coroa de louros de vencedor.

= Equipa do FC Porto - 1961 (da esquerda para a direita): José Pacheco, Sousa Cardoso, Carlos Carvalho, Sousa Santos, José Pinto, Ernesto Coelho, Mário Silva, Mário Sá, Azevedo Maia, Júlio Abreu e Artur Coelho. =

E, continuando a desfiar o rol, Ernesto Coelho retoma a pedalada: «-Entre os meus melhores registos de ciclista profissional, há a referir que ainda em 1961 ganhei o Circuito da Senhora da Hora, no Porto, tal como na mesma época de 61 o Prémio BREC. No circuito da Senhora da Hora tive uma grande emoção que foi correr ao lado dum dos meus ídolos de épocas recentes, ao tempo, o Alves Barbosa. Bati-o no sprint. Fiquei em primeiro e ele em segundo. Foi fantástico. Nunca mais esqueci. Além de outros lugares de destaque, como também em 1961 foi o 2º lugar no Circuito da Curia. Tendo em 1962 ganho o Circuito Ciclista da Vila da Feira. E entre outros troféus e vitórias, participei em quatro edições da Volta a Portugal em Bicicleta, desde 1961 a 1964 e numa Volta a França pela Seleção Portuguesa no Tour d’ Avenir para Sub-25 anos, em 1962.»


Tendo na Volta a Portugal Ernesto Coelho vencido duas etapas da Grandíssima: em 1962, a 10ª da Volta desse ano, de Tavira-Évora, ao fim de 255 Km, em tal Volta ganha pelo colega de equipa José Pacheco, e coletivamente também pelo FC Porto; e em 1964 triunfou na etapa Vila Nova de Ourém-Águeda, de 159 km e à média de 39 km/h, na volta esse ano  ganha por Joaquim Leão, e igualmente por equipas pelo FC Porto. Tal como antes ainda, em 1963 venceu uma etapa do I Grande Prémio do FC Porto, a de Braga-Porto, que lhe deu a camisola amarela.

= Etapa ganha por Ernesto Coelho na Volta a Portuugal de 1962 =

"Equipa do FC Porto de 1962, com Ernesto Coelho entre o grupo que ladeia o vencedor da Volta desse ano., José Pacheco =

A participação na Volta de 1962, em que, correndo entre o maior número participativo de corredores de sempre, até então, Ernesto venceria a sua primeira etapa ao décimo dia, ficou associada à inauguração da iluminação do Estádio das Antas, motivo porque a etapa inicial se disputou em circuito noturno na pista circundante ao relvado do FC Porto.


Dessa noite festiva, por isso, junta-se aqui a correspondente página do Livro Oficial da Volta de 62, referente à 1ª etapa, mais uma imagem ilustrativa da corrida dos homens das camisolas azuis e brancas.

= Noite da inauguração da iluminação das Antas, ao início da Volta de 1962 =

Fotos da entrega ao FC Porto dos trofeus da Volta de 1962 e jantar comemorativo dessa vitória individual e coletiva da Volta do Pacheco =


Em 1963, Ernesto Coelho foi então primeiro classificado durante uma etapa do 1º Grande Prémio do FC Porto, prova que apenas não venceu depois por não ter podido chegar ao fim, devido a uma queda que o impediu de continuar em prova, no decurso dessa competição disputada em vários dias, ao tempo incluída no calendário da Federação Portuguesa de Ciclismo e organizada pelo FC Porto.

= Festival de ciclismo na pista das Antas em 1963. Ciclistas Joaquim Coelho e Acácio Ribeiro, do Académico-Manuel Torres e Júlio Abreu, da Cedemi- Anquetil e Silvilloti (Estrangeiros)- Mário Sá, José Pinto,  Ernesto Coelho, Sousa Santos e Joaquim Freitas, do FC Porto. Conjunto dos participantes, em pose junto ao famoso Anquetil, e ampliação separada do grupo do FC Porto =

= Equipa do FC Porto de 1964 =

De seguida, estando em boa forma e numa fase de afirmação, teve inclusive uma boa campanha na maior prova do ciclismo português. Conforme descreve também: «-Na Volta de 1964 classifiquei-me em 18º lugar da geral, o que foi uma boa classificação, mas a três dias do fim perdi o 4º lugar da classificação geral em que estava por ter tido um azar com a bicicleta e, no atraso derivado, não ter havido normal ajuda de colegas, devido ao interesse da equipa, estando ao mesmo tempo em jogo a luta pela camisola amarela que Joaquim Leão conseguiria, pois seguia em posição de poder vencer a Volta, como felizmente foi conseguido.» Tendo assim Ernesto Coelho sido sacrificado, vítima das circunstâncias, em prol dos superiores interesses da equipa.

= Na apoteose à vitória de Joaquim Leão, lá estava Ernesto Coelho a seu lado. 

 De permeio tinha havido outros clubes interessados, conforme Ernesto Coelho diz: «-Recebi convites do Benfica, do Sporting e do Académico, mas nunca saí do FC Porto». O que foi verdade, enquanto correu em Portugal.  Viveu de permeio durante dois anos em Vizela a seguir ao casamento e o seu filho mais velho nasceu aí. Na terra do famoso pão de ló bolinhol, onde tem muitos amigos e se sente vizelense.


Na Volta de 1964 fez então parte pela última vez de tal lote de ciclistas, que deram cartas na grandíssima prova que todos completaram. Como nos lembramos  do que diziam uns versos populares, celebrativos da vitória portista na Volta de Joaquim Leão:

«…À frente Porto ao ataque /  a subir, sempre a subir / com o Leão em destaque / e Mário Silva a fugir… / Ernesto Coelho e Cardoso /atentos no pelotão / foi o grupo mais p’rigoso/ e no final o campeão… / É uma equipa portuguesa com certeza / é de certeza uma equipa portuguesa»!

= Equipa do FC Porto que venceu a Volta de 1964 individual e coletivamemte, terminando com todos os 8 ciclistas com que começou a prova, os que era legalmente permitido inscrever. Aqui, no instantâneo fotográfico, num momento da volta de honra à pista de Alvalade onde terminou a última etapa, com o treinador Onofre Tavares a comandar o esquadrão valoroso.

Após isso, Ernesto Coelho rumou ao estrangeiro, para França. Era tempo de grande surto de emigração e a vida em Portugal estava difícil. Não se saía da cepa torta, como dizia o povo. O FC Porto oferecia um bom contrato, mas olhando ao futuro tinha de pensar bem na vida. - O que o fez ir para França?  A isso Ernesto Coelho relembra: « -Um amigo indicou-me uma equipa francesa onde eu poderia correr, que era a M.B.K. Apresentei-me com os meus dados, mas disseram-me que não era uma equipa profissional. Contudo o patrão da equipa disse que me arranjava trabalho lá e me pagava dez horas de treino por semana. Perguntei quanto me davam afinal para vestir a camisola dessa equipa e o patrão indicou, para meu grande espanto, que me pagava 8.500 escudos por mês (atualmente 42.50 euros, mas melhor ainda com o câmbio desse tempo, além da diferença do custo de vida) e podia ficar ainda com os prémios monetários das corridas. Fui ganhar quatro vezes mais do que ganhava no Porto e ainda me arranjaram um bom emprego. Havia meses que tirava 15 contos (75 euros) no ciclismo, com os prémios das corridas incluídos.


Ernesto Coelho correu durante seis anos lá e trabalhou cerca de 40 anos na mesma fábrica, empresa Patriarche et Kriter, juntamente com a esposa. Era mecânico e saiu dessa fábrica apenas para a reforma. Vive em Sainte-Marie-la-Blanche, em solo francês.


Atualmente radicado na França, vive cá e lá, como se diz, contudo a maior parte do ano vive onde sua descendência está, enquanto vai fazendo visitas frequentes a Portugal e particularmente a Vizela, terra de onde a esposa é natural e é afinal sua cidade de coração, embora sendo natural de S. Martinho do Campo-Santo Tirso. Instalando-se temporariamente em Guimarães, durante parte do tempo que passa em Portugal. E, felizmente, está rijo e de bem com a vida. Como o vi em minha casa recentemente.


De seu percurso desportivo juntamos algumas imagens e recortes de jornais, como ilustração. Pois, guardando recortes colecionam-se memórias…em diálogo com factos memoráveis, dignos de perdurar e passarem além do passado. Como escreveu o historiador desportivo Alcino Pedrosa, “cada recorte leva-nos a reviver um passado, um passado por vezes esquecido, que necessita de ser reescrito, antes que se perca irremediavelmente”.

= Ernesto Coelho junto a alguns dos trofeus de sua carreira. Entre os quais esta taça em porcelana, que se vê quase ao centro, o Ernesto vai oferecer proximamente ao Museu do FC Porto (como o autor destas linhas já informou para o museu), sendo uma peça ganha em Coimbra em 1962, no decurso do Lisboa-Porto desse ano, por ter sido primeiro a passar na meta volante instalada na cidade dos doutores no decurso dessa clássica que foi tradicional entre as maiores corridas portuguesas. =

Posto isto, como no outono caiem as folhas da natureza mas depois nascem outras em seu lugar, deixamos ao conhecimento público estas memorizações, por quanto a história natural será sempre algo mais renovada. 


Ao longo desta narrativa, deveras extensa para fazer a devida justiça ao que pensamos de Ernesto Coelho, fazemos deste modo uma vénia a este antigo ciclista que ainda é das grandes referências do ciclismo nacional e sobretudo portista – o Ernesto Coelho, participante com a camisola do Futebol Clube do Porto em diversas Voltas a Portugal e vencedor de etapas e diversas outras provas. Um homem que ficou grato a Afonso Pinto de Magalhães por ter passado a tropa perto e assim ter continuado a correr pelo Porto, além de, enquanto militar, assim ter podido continuar a namorar com a mulher, com quem casou e forma um bonito casal. Tal qual tem bem presente na cabeça tudo do seu tempo de ciclista, correndo agora mais com os sentidos mas de igual forma ágil física e mentalmente. Um senhor simpático que tive o prazer de receber e tenho muito gosto em ter como amigo.

Armando Pinto
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